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Desde o início da banda, no ano passado, o grupo já realizou alguns shows – em horários vespertinos e em bares de familiares e amigos, como o Snake Bar, no Benfica, comandado pelos pais de Sophia – e se dedica a uma rotina de ensaios. A ideia, agora, é se dedicar cada vez mais ao projeto, levando a sério o sonho do quarteto, mas com o cuidado de manter uma rotina adequada à idade das meninas.
“Como elas são muito pequenas ainda, e o pessoal já está muito ansioso pra ver mais, a gente estipulou de ter pelo menos um show por mês, ou dois, no máximo. O importante mesmo são esses momentos de ensaio, que é a brincadeira, o momento de aprender”, destaca Tina Paulo. “Por elas, elas tocavam toda semana, todo dia. A gente é que diz ‘não, peraí, vamos com calma’”, brinca a produtora.
Em entrevista ao Verso no estúdio Esconderijo, ponto de encontro semanal das artistas mirins, as quatro meninas contaram como tem sido construir uma banda de rock 100% feminina e quais os sonhos para o futuro d’As Caramelas.
Apesar da forte influência dos pais, as quatro meninas têm referências muito próprias e estão, aos poucos, entendendo qual estilo querem seguir. Atualmente, o momento é de conhecer e experimentar, sem se restringir a vertentes específicas do rock, explica Tina.
“Isso vai ajudá-las a fazerem suas próprias músicas, porque vão ter várias identidades. Agora não precisa escolher um ritmo, um eixo para elas. Não precisa dizer isso agora, elas vão construindo”, pontua a mãe e produtora.
A guitarrista Maya é fã, sobretudo, de Metallica e System of a Down; Gaia, por outro lado, prefere “bandas de rock de meninas”, como The Runaways e a cearense The Knickers, banda da qual Tina fez parte.
A vocalista Sophia cresceu ouvindo Kiss e Ozzy Osbourne, mas hoje se inspira principalmente em Joan Jett; já Sofia dá continuidade ao amor da mãe – a videomaker Karolis Venâncio, que também tocou baixo na juventude –, pelas bandas Hole e Nirvana.
Atualmente, um mix dessas e de outras bandas compõe o repertório de shows do quarteto. Pelo menos metade das músicas é sempre de bandas femininas, um lembrete da importância da representatividade em todos os espaços. A ideia, no entanto, é migrar, aos poucos, do cover para o autoral, e as primeiras composições estão em processo de construção.
Um dos desafios, além da conciliação das agendas escolares e familiares, é conseguir instrumentos para as integrantes conseguirem se dedicar mais aos estudos musicais. Maya, a guitarrista, é a única com instrumento próprio, “herdado” de Tina. Sofia Hachi, canhota, toca com um baixo para destros adaptado, emprestado de amigos da família; já Gaia pratica com bateria eletrônica em casa e toca bateria convencional apenas no estúdio.
Tímida, conta que no palco que consegue se soltar. “O negócio é só ter cuidado para não ‘tacar’ a baqueta na minha cara”, brinca. Junto ao quarteto, a pequena já vislumbra um futuro empolgante para As Caramelas e conta o que mais a anima nessa jornada.
“Eu gosto do que todas as bandas fazem: um monte de entrevista, um monte de show. Eu quero ser assim”
A irmã, Maya, explica que o processo de subir ao palco não é fácil, mas tem sido prazeroso. Estar com Gaia ao lado facilita. “Está sendo legal, só está sendo difícil o nervoso”, brinca. Mas o segredo para se soltar já foi descoberto: “focar na guitarra”.
Para Sophia Foxy, subir ao palco tem sido “realizador”. Desde cedo, a pequena queria ser cantora solo, mas tem se empolgado com a rotina musical em conjunto. “Meu sonho agora é a gente ter muito reconhecimento – que a gente já tem, mas ter muito, muito, muito mais”, conta, animada.
“E também começar a ter músicas autorais, produzir um álbum, essas coisas. É o sonho de todas, acho: começar a sair da banda cover para ir para o autoral. Acho que é o maior objetivo”, destaca.
Já Sofia Hachi vê na banda uma possibilidade de estimular outras meninas a tocarem seus próprios projetos. “O sonho é que nossa banda fique bem conhecida e que a gente possa estimular outras pessoas a tocar rock e ter coragem de ter essa autenticidade, porque não é qualquer pessoa que tem coragem de assumir o estilo”, pontua.
“Eu acho que esse espaço para as mulheres vem aumentando no rock atualmente, vem crescendo cada vez mais – com bandas que nem a gente”, completa.
Em comum, além do amor pelo rock, as quatro meninas demonstram orgulho do apoio das mães e pais, que embarcaram no projeto das filhas como se fosse uma continuação de suas próprias trajetórias artísticas. Filha de um casal que vivencia o rock há décadas – e que hoje é dono de um dos principais palcos underground da Cidade, o Snake Bar – a vocalista Sophia reconhece que esse apoio tem sido essencial para que a banda ganhe vida.
“Acho que é essencial os pais apoiarem os filhos e sei que tem muita gente que, lá atrás, não conseguiu ter essa oportunidade, não teve apoio dos pais. Então, é muito bom a gente ter pais que entendem, que acolhem e que, quando a gente estiver precisando, eles estarão aqui”, comenta.
Para a produtora Tina Paulo, a banda é uma oportunidade de construir um caminho diferente para as filhas, já que, quando começou a tocar, aos 13 anos, ela não teve apoio da família.
“A gente como pai, mãe, família em geral, tem que incentivar os filhos no que eles sentem que querem fazer. No caso das minhas filhas, pra gente, deu certo (risos), eu achei maravilhoso, mas cada um tem sua expertise”, detalha.
“No meu caso, eu não tive incentivo nenhum, muito pelo contrário. Era sempre os meus pais dizendo ‘não, não, não’. E eu disse que com elas não ia ser assim, que com elas ia ser incentivo total. Então, para mim, é um orgulho muito grande”, completa.
Além da alegria de ver as filhas realizadas, a artista conta que os estudos musicais têm ajudado Maya e Gaia em diversos aspectos – organização, criatividade, disciplina e, especialmente, a redução do interesse pelas telas, como o celular. “A gente está vendo na prática o quanto está sendo muito bom”, destaca.
As redes sociais da banda, aliás, são monitoradas apenas pelos pais. Ensaios e shows são sempre acompanhados por Tina e outros membros da família. “Até porque são meninas, e a gente precisa estar sempre protegendo”, ressalta.
Assim como Tina, a mãe de Sofia Hachi, Karolis Venâncio, conheceu de perto as alegrias e dificuldades de tocar em uma banda de rock. Na mesma idade da filha, começou a tocar baixo e cantar em bandas da Cidade – lembra com carinho especial de uma banda cover de Hole, uma de suas bandas favoritas, que se tornaria uma das bandas favoritas da filha.
Em meio ao ensaio d’As Caramelas – em que Sofia tocava baixo trajando, justamente, uma camiseta da banda comandada por Courtney Love –, Karolis destacou, emocionada, que projetos como a banda mirim são uma “continuidade” a histórias construídas nas gerações passadas, como a dela.
“Em algum momento foi o sonho da minha vida ter uma banda de meninas, tocar rock, fazer um som e ser respeitada, porque a gente sabe que nesse meio onde o público masculino é muito maior que o feminino, é difícil a gente ganhar visibilidade”, ressalta, lembrando que o machismo no rock, apesar de ter diminuído após intensa luta das mulheres, ainda precisa ser combatido. E, para ser combatido, primeiramente, é preciso que meninas e mulheres ocupem os espaços que desejam.
Com repertório cover que inclui sucessos do rock, como “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana, e “Zombie”, do The Cranberries, As Caramelas se apresentam na 8ª edição do festival beneficente Metal Tin Tin, no próximo dia 31 de maio, no Esconderijo Rock Pub. Para acompanhar a agenda e mais novidades, siga o quarteto no Instagram: @ascaramelas_.